sexta-feira, 17 de abril de 2009

QUE VÃO, VÃO!

Vão atar-lhes as asas
Caso você as construa
Vão censurar os seus atos;
Vão sorrir dos seus sonhos
E descrer sem perceber
Que os tempos são outros,
Que seus pensamentos são lindos,
Que a Terra não é o limite;
São poderosos, terríveis;
Estarão sempre armados,
Donos das suas necessidades,
Senhores do nada, decerto.
Podem cortar suas asas,
Censurar os seus desejos,
Esconder-lhes os fatos;
Deixe que assim eles e elas pensem,
Deixe-os alegres, loucos e loucas,
Felizes, imaginando-lhe incapaz,
Derrotado e sem opção.
Esconda-lhes as suas fortes asas,
Dê velocidade ao seu pensar,
Não ensaie as realizações,
Realize-as firmemente;
Não ameace voar,
Voe inesperadamente,
Siga a Luz, a Razão;
Ame a Natureza,
Enlouqueça-os e enlouqueça-as sem violência.
.
.

ERAM..., MAS NÃO MUITO

Eram vidas em luta
Há muito ávidas
De um algo qualquer,
Que mudasse seus ritmos,
Mundos, paixões, metas;

Não percebiam
O muito que eram
Diante dos símbolos
Criados por alguns
Egoístas, maníacos,
Despreocupados dos outros;

Assim, aquelas vidas,
Eternamente subjugadas,
Instrumentalizadas,
Serviam aos símbolos,
Às instituições, aos poderosos.
Eram vermes, escravos
Numa senzala global.

RELUZIR

Absorto no tempo
Ao sabor do vento
Das ondas macias,
Desenvoltas e livres;
Viajo, amigo,
Além dessa era,
De tudo, decerto,
Que pensamos viver.
Sou néctar insípido
Nesse quadrante fúnebre,
Sem seguir o cortejo
Um dia sonhado.
E o brilho percebo,
Surgirá completo,
Sem que todos entendam
Meu ingênuo fulgor;
Sem entraves reais,
Triunfará a lucidez,
Abominando os funerais.

MARAVILHOSOS VÔOS

Vou sorrindo ao mundo
Derrubando as barreiras
Pois sei bem no fundo
Todas suas maneiras

De dizer as mentiras
Com os sons da verdade
De reter muitas iras
E fingir caridade

Circunstâncias exigem
Sagacidade completa
Ignorar a fuligem
Alcançar minha meta

Maravilhosos vôos deve o homem realizar
Infindáveis, infinitos, contestadores
Sempre, sempre! Tudo almejar
Não ser, nem aceitar senhores.
.
.

CUMPLICIDADE

É uma relação gostosa
Desejada de verdade,
A todo momento ansiosa,
De acontecer novidade.
É bom pensar tua forma,
Sem regra, sem norma,
Permitindo fazer parir,
As idéias coerentes ou não,
Às vezes sombrias, sem emoção,
Ou reluzentes, candentes, explosivas,
Desejosas de verter a criação.
Tão linda, para sempre vivas!
Amo tuas partes, teu bico;
Tungstênio desliza macio!
Torno-me homem rico,
Varão, animal no cio.
É um querer diferente,
Toda hora realizar.
Distribuir a seiva contente
Sobre o papel e me transportar
Ao fundo, às alturas, sonhar!
Contigo eu posso sorrir
E encontro somente magia
Porque não há como substituir
A tua visceral tecnologia.
.

MULHER

Uma sereia dourada
Deusa marinha iluminada
Mergulhada em cristal azul
Entre algas e leões prateados
Adornando grutas, corais.
Mulher-peixe encanta pescadores
E amantes do mar e da lua,
Das noites, das praias desvirginadas.
Misteriosamente linda,
Negra sereia dourada,
Deusa rainha iluminada;
Ilhas, crespo horizonte verde-azul,
Sol cadente vermelho-amarelo,
Pérola sem concha e sem mar,
Viver, é também te sonhar.

OS FILHOS

São lindas tochas de vida
Frutos da agonia de viver
Iluminando mentes genitoras
Sem jamais lhes pertencer
Aquecendo-lhes os espíritos
Renovando-as a cada amanhecer;

Um constante realizar!

Às vezes atrapalham
Outras vezes fazem caducar
Talvez para fugir do mundo cão
Dos murros, dos sufocos, das organizações,
Aos filhos não se pede divórcio;

Criar filhos é sacerdócio!
Amá-los, educa-los, encaminha-los
Sempre dar sem nada exigir
Vê-los vencendo, adultos
Realizando frustradas realizações;

Pais, avós, construções!

SOMBRA

Um prédio tão grande
Um pássaro sem asas
Garras cravadas no solo
Mar de papéis confusos
Poderosos contra os homens
Preocupa-os, adoece-os, envelhece-os,
Em troca um presente:
Expectativa de segurança.
Certamente alguns homens
Não nasceram para sonhar
São antes de tudo estômago,
Querem sombra e conformidade
Um emprego é suficiente
Mesmo atividades sem futuro
Faz um funcionário contente.
Os prédios são sempre grandes
Cabem centenas de funcionários,
Escravos bem arrumados.

VAMOS À LUTA

Corri entre os corpos,
Procurei um entre tantos;
Ao menos um se possível,
Um não tão horrível,
Que entoasse seus cantos
Através das ações, sem paixões;
Sem palavras tão gastas.
Um corpo encimado por cabeça simples,
Sadia, inquieta, alegre solidária.
Vi corpos fortes,
Aerobicamente transados,
Musculosos, bem treinados;
Corpos bonitos, bem divididos;
Cabeças externamente lindas,
Repletas de planos, temores.
Corpos e cabeças quase deuses,
Senhoras, atores, senhores.
Procurei a simplicidade,
A vida de verdade,
No campo e na cidade.
Não queria inocência,
Emoções fabricadas,
Idéias enlatadas.
Acabou-me a paciência,
Razão sem violência.
Eu sou a cabeça,
O corpo, a simplicidade.
Serei o começo,
A vida de verdade,
Sem força bruta,
Cabeça e corpo,
Vamos à luta.